Palmira tornou-se parte da província romana da Síria durante o reinado de Tibério (14 d.C - 37 d.C.). A cidade continuou a desenvolver-se e a ganhar importância até que se tornou uma cidade livre, sob o império de Adriano, em 129.
Nesta altura Palmira era o ponto mais importante da rota do comércio que ligava o leste e o
oeste, situando-se aproximadamente a meio da distância que vai do Mar
Mediterrâneo até ao rio Eufrates.
Por esse motivo tornou-a num ponto de
paragem obrigatório para muitas das caravanas que seguiam esta rota
comercial, chegando a atingir uma população de 100 000 habitantes.
Contudo, a sua história sempre esteve envolta em algum mistério: o que
estava uma cidade deste tamanho a fazer no meio do deserto?
Como podia
tanta gente viver num lugar tão inóspito há cerca de 2 000 anos? De
onde vinha o alimento para toda aquela gente? E porque passava uma
importante rota comercial pelo coração do deserto?
Investigadores noruegueses estabeleceram um protocolo de colaboração com
os seus colegas arqueólogos sírios e durante quatro anos trabalharam
para dar respostas a estas questões.
"Os nossos resultados vieram enriquecer o conhecimento da história
da cidade antiga de Palmira", refere o gestor de projeto Jørgen
Christian Meyer, professor da Universidade de Bergen.
O projeto recebeu um financiamento superior a 9 milhões de coroas
norueguesas do Conselho de Investigação da Noruega, uma entidade que
financia projetos independentes de investigação arqueológica.
Investigação utilizou métodos arqueológicos modernos
Os arqueólogos coordenados por Bergen abordaram o problema a partir de
um novo ângulo. Em vez de examinarem a própria cidade, estudaram o
território situado a norte.
Juntamente com os seus colegas sírios do
Museu de Palmira e auxiliados por fotos de satélite, realizaram a
catalogação de um grande número de antigos vestígios ainda presentes e
visíveis na superfície da terra.
"Dessa forma", explica o professor Meyer, "fomos capazes de formar uma
imagem mais abrangente do que ocorreu dentro de um território maior onde
se situava a antiga urbe."
A equipe detectou um grande número de
assentamentos romanos que polarizavam todo aquele território. Mas o que
contribuiu de forma inequívoca para resolver o enigma de Palmira foi a descoberta dos reservatórios de água que estas aldeias haviam utilizado.
Afinal Palmira não estava no meio do deserto
O professor Meyer e os seus colegas logo se aperceberam que o que eles
estavam a estudar não era um deserto, mas sim uma estepe árida, com
cisternas de acumulação de água subterrâneas que aproveitavam a chuva e a
guardavam debaixo do solo.
A água da chuva era assim acumulada em riachos e rios a que os árabes chamavam “Wadi”.
Os arqueólogos recolheram evidências de que os moradores de Palmira e das aldeias vizinhas faziam uma rigorosa gestão da água da chuva a partir do uso de barragens e cisternas.
Isto permitiu que as aldeias estruturassem toda a sua economia em torno
da água, que permitia o regadio dos produtos agrícolas que abasteciam
a cidade.
Rota de comércio seguro
Por outro lado a localização de Palmira, com o rio Eufrates a correr a
norte, em muito contribuiu para gerar um espaço crucial nas rotas do
comércio que existiam na altura. Os comerciantes encontraram na cidade o
local ideal para construir uma rede global de comércio seguro", diz o
professor Jørgen Christian Meyer. "Isso explica a sua grande
prosperidade na época", sublinha o investigador.
Terras aráveis são fundamentais em tempo de necessidade
A solução para o mistério de Palmira também
nos pode ensinar alguma coisa sobre os problemas que hoje se vivem.
Enquanto o mundo procura terra arável para alimentar os seus milhões de
habitantes, podemos aprender a partir da experiência dos homens e das
mulheres de Palmira.
Se eles foram capazes de cultivar o solo do deserto há quase 2 000 anos
atrás, certamente nós podemos fazer o mesmo com todas as ajudas
disponíveis e com a tecnologia existente.
“Às vezes uma enorme quantidade de chuva cai no deserto e qualquer
pessoa pode ver como esse deserto fica verde depois dessa chuva.
Os
habitantes da região de Palmira devem-se ter apercebido do potencial
deste tipo de terra que, como se sabe, cobre grandes áreas do nosso
planeta. ", diz o professor Christian Meyer.