Um avião Boeing decola de um aeroporto asiático, mantém contato com
controladores de tráfego aéreo sem relatar problemas e desaparece.
Essas
são as semelhanças, até o momento, entre o caso da aeronave da Malaysian Airlines, que partiu da Malásia para a China com 239 pessoas, e uma história ocorrida há 35 anos.
Na noite de 30 de janeiro de 1979, o avião cargueiro Boeing 707 da
brasileira Varig partiu do aeroporto de Narita, em Tóquio, rumo a Los
Angeles. Fez contato com a base, na capital japonesa, 33 minutos após a
decolagem, quando sobrevoava o Oceano Pacífico a 500 km do litoral, mas
não realizou a comunicação prevista para meia hora depois.
Acionadas, forças japonesas e norte-americanas realizaram as buscas por
meses, mas a aeronave jamais foi encontrada. Trata-se, provavelmente, do
maior mistério da aviação brasileira.
O avião cargueiro voava
com seis tripulantes: os pilotos Gilberto Araújo da Silva e Erni
Peixoto, os oficiais Evans Braga e Antonio Brasileiro da Silva Neto e os
engenheiros Nicola Esposito e José Severino de Gusmão Araújo.
Herói
Gilberto Araújo era detentor da
Ordem do Mérito Aeronáutico e também fora condecorado na França pela
manobra que realizou no subúrbio de Paris, em julho de 1973, quando
pilotava outro Boeing 707. O avião se aproximava de seu destino, o
aeroporto de Orly. Mas com a aeronave em chamas, o comandante realizou
um pouso em uma plantação para evitar um desastre maior.
O fogo havia surgido em um banheiro e se espalhado pelo material
plástico que revestia internamente o avião. Cento e vinte e três
passageiros morreram asfixiados, entre eles o senador Filinto Miller e o
cantor Agostinho dos Santos. Só 11 pessoas sobreviveram.
O
piloto sofreu ferimentos na cabeça e na coluna, fraturou duas vértebras e
o maxilar. Ficou internado por 17 dias em Paris. Só voltou a pilotar em
janeiro de 1974.
Em 31 de janeiro de 1979, a manchete que o
jornal Folha de S.Paulo estampava em sua capa reconhecia a fama de
Araújo: "Piloto herói de Orly desaparece no Pacífico com Boeing da
Varig".
"Era um comandante muito experiente. Se não fosse ele
[em Orly], poderia ter sido muito pior", afirma o comandante aposentado
Zoroastro Ferreira Lima Filho, 83, colega de Araújo nos tempos da Varig.
Obras de arte
Em 1º de fevereiro, a Folha informava que o avião que decolou de Tóquio
transportava 53 quadros do artista nipo-brasileiro Manabu Mabe.
Avaliadas à época em US$ 1,2 milhão, as obras haviam sido expostas no
Japão.
Cada tela tinha um seguro de US$ 10 mil, valor considerado abaixo do
mercado pelo artista. O Boeing transportava as pinturas para o Rio de
Janeiro. Outra tripulação assumiria a aeronave em Los Angeles.
Além das obras de arte, o avião carregava material eletrônico, aparelhos
elétricos, peças para navios, peças para computadores, máquinas de
costura, entre outros objetos. A carga pesava 20 toneladas.
Incógnita
De acordo com a reportagem da Folha, uma das hipóteses aventadas era de
que o Boeing havia explodido. O mesmo texto informava que a decolagem
sofrera um atraso de quase duas horas porque o avião estava em
manutenção.
No entanto, nenhum destroço do avião foi encontrado,
o que impediu o avanço das investigações e deixou o caso sem
conclusões. Mais de um ano depois, a Folha informava em 29 de fevereiro
de 1980 que a Varig não tinha a "mínima ideia do que poderia ter
ocorrido com o avião".
"Nem a empresa nem as autoridades
forneceram detalhes sobre seu desaparecimento, que depois das
fracassadas buscas foi esquecido", afirmava o jornal. A nota da Folha
também informava que as famílias dos seis tripulantes desaparecidos
haviam sido indenizadas.
"É uma incógnita [até hoje]. Ele vinha
dando a posição certa e depois sumiu, apagou. Não deu mais notícia", diz
o comandante Zoroastro. "Ficamos muito chateados. E não se chegou a
conclusão nenhuma".
Fonte: UOL
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