O debate de longa data sobre quantas ondas de emigração africanas levaram para os seres humanos modernos povoarem o planeta foi reaceso na quarta-feira (21) em estudos genéticos divergentes publicados na revista científica Nature.
Dois artigos disseram que um único êxodo partindo da África
provavelmente resultou em populações humanas contemporâneas na Ásia,
Europa e em outros lugares.
Um terceiro estudo disse, porém, ter encontrado DNA humano
sobrevivente de pelo menos uma migração africana anterior a esse grande
êxodo.
Ao todo, os três estudos apresentam dados de mais de 280 populações
diferentes ao redor do mundo, mas não chegam a um consenso sobre o que
eles significam.
A pesquisa forneceu “algumas peças que faltavam no quebra-cabeça da
História humana”, disseram Serena Tucci e Josué Akey, do Departamento de
Ciências do Genoma da Universidade de Washington em um comentário na
revista.
Mas “muitas questões fascinantes permanecem” e são necessárias mais
pesquisas “para retraçar totalmente os passos dados pelos primeiros
seres humanos, enquanto eles exploraram e colonizaram o mundo”.
Muitos cientistas acreditam que as ascendências de todos os
não-africanos atuais remontam a uma única população que deixou o
continente há entre 40.000 e 80.000 anos.
Outros afirmam que houve uma migração anterior para o Sudeste da Ásia
e para a Australásia, entre 120.000 e 130.000 anos atrás, seguida por
uma migração posterior para a Eurásia.
Dois dos novos estudos parecem apoiar a primeira teoria.
Os dados genéticos – afirmam – apontam que todos os não-africanos
tiveram origem em um único êxodo africano. Mas eles discordam sobre o
que aconteceu depois.
De acordo com um grupo de pesquisadores, parece que os humanos
modernos, ao deixarem a África cerca de 72.000 anos atrás, logo se
dividiram em dois grupos: um que seguiu rumo ao norte para a Eurásia,
enquanto o outro foi em direção ao leste para a Australásia.
Colonizadores extintos
Isso foi evidenciado pelo fato de os aborígenes australianos
compartilharem a grande maioria de seu DNA com outros não-africanos,
disse a equipe.
Austrália e Nova Guiné têm algumas das primeiras evidências
arqueológicas e fósseis de humanos modernos fora da África, e já foi
especulado que os aborígines podem ter-se originado a partir de uma
saída anterior da África, ligada à Ásia.
Uma segunda equipe de pesquisa concordou que houve um único êxodo
africano, mas disse que a primeira divisão aconteceu um pouco mais tarde
– entre os eurásios do oeste e do leste.
Nenhuma das equipes descarta a possibilidade de múltiplas migrações
fora da África, mas afirmam que essas teriam contribuído muito pouco com
o patrimônio genético dos seres humanos contemporâneos.
O terceiro estudo tomou um rumo diferente, mais em linha com uma teoria de múltiplas ondas migratórias.
Pelo menos 2% do genoma da população moderna da Nova Guiné – concluiu o estudo – veio de um grupo “primitivo e em grande parte extinto”, que tinha divergido dos africanos antes do que dos eurasianos, cerca de 120.000 anos atrás.
Pelo menos 2% do genoma da população moderna da Nova Guiné – concluiu o estudo – veio de um grupo “primitivo e em grande parte extinto”, que tinha divergido dos africanos antes do que dos eurasianos, cerca de 120.000 anos atrás.
O DNA antigo pode ter sido preservado nos papuásios por causa de um
canal de águas profundas que separa Ásia e Austrália que não congelou
durante as eras glaciais, isolando a população lá, enquanto outros
misturaram seus genes mais livremente.
“Acreditamos que pelo menos uma expansão humana adicional fora da
África aconteceu antes da grande expansão descrita na nossa pesquisa e
em outras”, disse o coautor do estudo Toomas Kivisild, da Universidade
de Cambridge.
“Essas pessoas divergiram do restante dos africanos cerca de 120.000
anos atrás, colonizando algumas terras fora da África. Os 2% do genoma
de Papua é o único vestígio remanescente dessa linhagem extinta”,
acrescentou.
Fonte: Isto É
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